domingo, 30 de maio de 2010

As facas e os queijos na nossa vida


No filme À procura da felicidade, o filho do personagem principal uma hora conta uma piada que é mais ou menos assim: a cidade estava alagada. Um homem de muita fé estava tranqüilo pois tinha certeza que Deus o salvaria. E veio um barco e lhe ofereceu ajuda. O homem muito confiante disse que não precisava pois Deus não o abandonaria. Logo depois, um helicóptero do corpo de bombeiros passou ali e ofereceu ajuda ao homem que deu a mesma resposta muito certo de sua fé. Por fim, a água atingiu o homem que morreu afogado. Chegando ao céu, ele foi reclamar com Deus: poxa, sempre tive tanta fé. Porque não me salvou. E Deus respondeu: eu lhe enviei barcos, helicópteros e você recusou toda a ajuda que lhe mandei.

Como eu disse no meu post anterior, é comum reclamarmos quando as coisas estão ruins sem notar que temos tudo à mão para tornarmos a situação favorável. Se dermos farinha, leite, ovos e fermento para algumas pessoas, haverá gente que fará uma deliciosa panqueca. Outros farão um bolo ou pão. E alguns vão reclamar que estão com fome e tudo o que tem é aquele monte de coisas inúteis. Não há ninguém no mundo que seja um amontoado somente de defeitos ou somente de qualidades. Todos possuímos ambos e sempre há algo em que somos bons. O que muda é quem tem atitude e quem não tem. Não adianta reclamar que as coisas não acontecem na nossa vida. Não basta ter lenha e fósforos. É preciso riscá-lo e acender a fogueira. Quantas vezes já não nos deparamos com situações simples como enviar um currículo, iniciar um curso, tentar algo novo, escrever um blog. Seja lá o que for, o mais importante de tudo é começar. Este blog nasceu assim. E tantas outras vezes em que pensei se enviava ou não enviava um currículo para determinada oportunidade de emprego. Esses dias mesmo eu enviei um currículo e a resposta foi que eu não tinha experiência na área. Ó meu deus. E agora? Agora nada. Agora as coisas vão simplesmente continuar como estavam. Mas o importante foi que eu tentei.

Qualquer jornada tenha ela dois quilômetros ou dois mil sempre se inicia com o primeiro passo. Se você andará um, cem ou mil quilômetros, você só saberá depois de andá-los. Se desistir antes de começar, a única certeza é de que você permanecerá exatamente no lugar onde está e não andará nada.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Errar é humano. Culpar os outros é mais humano ainda.


Sim, fui eu. A culpa é minha. Raríssimas vezes temos oportunidade de ouvir algo assim. Ver alguém estufar o peito, erguer o queixo e assumir a culpa por um erro é como encontrar um trevo de quatro folhas. Quando a situação é boa, temos mais facilidade em assumir a responsabilidade embora nem sempre isso aconteça, mas quando a situação está ruim é muito comum culparmos alguém ou alguma coisa.

Meu chefe não me deu oportunidades, meu namorado não me ouve, meus pais não me dão folga, meu cachorro baba demais. É sempre assim. Estamos sempre arranjando alguém a quem culpar por nossos problemas e acabamos caindo em um redemoinho que nos levará cada vez mais para baixo. A pouco tempo atrás, a garota que eu mais amava na vida resolveu encerrar nossa relação. Isso aconteceu em uma sexta-feira. Sábado, domingo, segunda e terça foram os dias mais lamentáveis da minha existência. Uma tristeza lancinante me corroia. Não sentia fome ou vontade de fazer coisa alguma. Até que na terça, uma amiga ofereceu seu ombro para as minhas lágrimas. Algumas horas de conversa renderam fantásticas conclusões. Uma delas foi exatamente a de assumir a responsabilidade pela minha situação e parar de culpar a ex.

Até aquele momento, eu me perguntava "mas porque ela não gosta mais de mim?". E por não achar nenhuma resposta plausível, aquilo me dilacerava a cada minuto. Então, de repente, a pergunta mudou. Passou a ser: "mas porque EU ainda gosto dela?". Foi mágico. No dia seguinte eu estava bem. Não sofria mais e a cada semana que passava, eu percebia mais e mais coisas que só me ajudavam a sair daquele estado deplorável em que eu me encontrava. E tudo isso porque eu consegui parar de culpa-la por eu estar triste. Assim que passei a ser responsável pela minha situação, eu melhorei. Culpar os outros é muito mais fácil, mas suga as nossas energias sem notarmos. Quando vemos, estamos no limite da bateria sem grandes chances de recuperação.

Sempre que a coisa não estiver boa, pare, pense e analise o que VOCÊ fez que lhe colocou na situação em que você se encontra. O seu chefe não lhe dava oportunidades mas foi você quem pediu para sair e hoje está desempregado. O seu namorado te largou, mas foi você quem foi insuportavelmente ciumenta. Quando encontramos o problema, fica fácil procurar uma solução. Se focarmos no problema errado, encontraremos a solução errada e as coisas serão como sempre foram.


domingo, 16 de maio de 2010

Prazer em trabalhar?


Prazer e trabalho até então pareciam coisas antagônicas, como o Super-homem e a criptonita, o Cascão e a água. Até ontem à noite. Chamei alguns amigos aqui em casa para um jantar japonês, tipo open bar, com direito a saquerinha de morango, kiwi, manga, cerveja à vontade e claro, sushis e sashimis.

Tudo começou semana passada quando eu disse a um amigo que adora comida japonesa que eu sabia fazer e era para a gente marcar um dia para reunir os amigos para um jantarzinho descontraído, para jogar conversa fora e apreciar as delícias nipônicas que eu aprendi a preparar. O trabalho já começou no começo da semana, convidando as pessoas. E diga-se de passagem, acho essa a parte mais estressante de todo o processo. Você chama a pessoa, ela diz que vai ver e te confirma depois e pronto, está feita a cagada. Você não sabe se ela virá ou não e não pode chamar outra pessoa até que ela confirme, pois, sushi não é como churrasco que é só trazer um monte de lingüiça e cerveja e tudo dará certo. É preciso saber quantas pessoas vem, calcular quanto sushi fazer etc. Só consegui confirmar o último casal de convidados no dia, já de tarde, antes de sair para comprar alguns ingredientes. É outra parte do trabalho. Sai de tardezinha, lá por duas horas da tarde. Cheguei em casa às cinco e nos próximos quarenta minutos, tentei ajeitar ao máximo as coisas porque ia jogar futebol (que é sagrado aos sábados à tarde) e teria que voltar correndo para preparar tudo para dez pessoas.

Comecei os trabalhos às oito horas. A gente só foi jantar depois da meia noite. Foram mais de quatro horas em pé cozinhando arroz, cortando algas, fatiando peixe, cortando frutas, legumes e tudo mais que o cardápio exigia. Horas de terapia intensiva relaxante e ao mesmo tempo estressante. Estressante porque é cansativo. Depois de enrolar um monte de sushis você para e conta quantos faltam e constata que não chegou nem na metade. E continua fazendo e atendendo aos convidados, certificando-se de que todos estão satisfeitos. Mas o resultado é impagável. As quatro horas de trabalho árduo resultaram em uma refeição de dez minutos. O pessoal devorou tudo o que tinha. Todos adoram. Após todo aquele esforço, a realização. A gratificação pela energia depositada naquela empreitada.

Por muitos anos eu me perguntei se era possível aliar o trabalho com o lazer e até então eu duvidava se um dia descobriria como fazer. Não que eu tenha descoberto mas com certeza encontrei uma pista importante nesta busca e uma evidência de que isto pode realmente ser possível. Enquanto eu não chego a uma conclusão, vou chamando os amigos para um sushi.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Preocupação: pré + ocupação, ocupar-se antes do tempo. Para que?


Por que a gente se preocupa com certas coisas? Não há sentido nisso. Sexta-feira eu tinha um convite para ir a um bar que ia tocar cover de Beatles. Eu nunca tinha ido lá e conhecia poucas pessoas que iam. Pessoas com que eu não tenho tanto contato. Estava morrendo de medo de chegar lá e ficar isolado, não gostar da banda, não gostar do bar, etc. Convidei todo mundo mais que eu pude mas ninguém se dispôs a sair naquela maldita sexta chuvosa e fria. Mas ficar em casa não era nem de perto o que eu realmente queria para aquela noite. Enfim, relutante, eu fui.

Chegando lá, o bar era um pouco diferente do que eu esperava para curtir o cover dos Garotos de Liverpool, pois o bar não tinha pista, só mesas. Meu amigo que me convidara estava em uma ponta da mesa e as outras duas pessoas que eu conhecia estavam do outro. Foi onde eu consegui me acomodar. Ainda estava meio receoso, mas fui entrando no clima, tomando uma cerveja e outra, jogando conversa fora com as pessoas da mesa. O som ia ficando cada vez mais animado à medida que a noite ia passando e quando eu percebi, estava adorando estar ali e não ter ficado em casa para assistir a um filme sozinho na sexta à noite. Passava uma propaganda do Halls a um tempo atrás em que um rapaz estava na balada e via uma garota do outro lado. Ele se dirigia à ela e falava um simples "oi". A guria pirava, gritava Ahhhh! Tarado, pegava uma arma de choque, eletrocutava o coitado. De repente, o garotão voltava à realidade, via que era tudo imaginação dele e arriscava. Se dirigia até a menina e falava o mesmo "oi" que era respondido com um "oi gatinho".

As vezes, a gente viaja muito longe tentando imaginar o que pode acontecer e não percebe que o pior que pode acontecer não é nem um pouco preocupante. Na sexta, eu decidi ir ao bar quando percebi que as chances de a minha noite ser horrível em casa eram muito maiores do que se eu fosse ao bar. Se eu chegasse lá e estivesse uma droga, eu simplesmente voltava pra casa e assistiria ao filme que assistiria se tivesse ficado. E eu tinha a chance de conhecer gente nova, curtir um bom som e tomar umas geladas. Foi o que aconteceu. Foi a melhor noite da semana. Quando você se encontrar em uma encruzilhada semelhante ou mesmo muito pior, simplesmente vá. Raramente as conseqüências serão piores do que não fazer nada. Como diz o ditado: "quem tenta pode até errar. Quem não tenta, já errou".

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Curta as coisas simples



Ontem o dia estava perfeito em Curitiba. Sol brilhando forte com o ar levemente frio. Típico do outono. Nada melhor do que uma volta de moto pela cidade, ir a um parque e curtir os raios solares esquentando a pele. A companhia de pessoas queridas para tornar o passeio perfeito.



Lembrando do dia de ontem, lembrei também de um filme a que assisti e achei bem bacana: Zumbilândia. Em um mundo pós-apocalíptico onde um vírus transformou as pessoas em zumbis, um personagem cheio de manias, receios e fobias possui uma lista de regras que ele segue à risca. Uma delas é fantástica e todos deveríamos seguir: Regra nº 32: curta as coisas simples (rule #32: enjoy the little things). O ventinho no rosto andando de moto em um dia ensolarado a 50 km/h é impagável. A companhia de amigos, conhecer pessoas novas, sentir a cerveja gelada descendo pela garganta, ver um filme de madrugada são coisas que dinheiro algum pode pagar. E eu não estou falando de tomar a cerveja. Isso tem um preço. Para mim, a cerveja custou R$ 4,50. Mas a sensação daquele gole naquele momento compensou cada centavo.

Desde que aprendi a curtir as coisas simples, o prazer de faze-las tornou-se imensamente grande. Não é preciso muito esforço para realiza-las e os momentos proporcionados costumam ser recompensadores. Há duas maneiras de ser rico. Uma é ter muito. A outra é se satisfazer com pouco. No passado eu já quis ter muito. Hoje em dia sou muito mais feliz.

sábado, 1 de maio de 2010

Sábado à tarde e muito tédio?


Sábado é dia de acordar tarde. Ou melhor, de tarde. Acordei às 15 para as 2 da tarde. Minha família toda saiu e eu fiquei sozinho em casa. Apesar de o dia estar ensolarado, nada animava. Não tinha vontade de fazer absolutamente nada. E isso estava me deixando maluco. Até que veio a idéia.

Sabe quando do nada vem aquela vontade simplesmente do nada de comer algo muito específico? Hoje foi a vez da panqueca (de novo). Vi na prática a arte da reciclagem. Na geladeira, um monte de "já te vi", aquelas coisas que você pensa que não tem mais salvação. Aquele toco de calabresa, o pedaço de cebola que sobrou, o queijo que todo mundo desprezou. Ovo e farinha, leite, mistura tudo e voilá. Temos um almoço às 4 da tarde.

Nada disso importa. O grande mérito da questão é que antes de começar, eu achei que o sábado seria mais chato corrida de tartaruga manca. O grande prazer não estava em comer, mas em fazer. Usei uma hora e meia que eu nem vi passar cortando ingredientes, cozinhando o molho, fritando as panquecas. Eu estava ansioso aguardando às 6 que é a hora do meu Sagrado Futebol do Sábado à Tarde pensando que morreria de tédio até lá.

As vezes a gente fica tão limitado às coisas que queremos que não prestamos atenção às oportunidades que o inusitado nos oferece. O que eu esperava para hoje era uma companhia feminina para passear de moto na cidade já que o sol estava brilhando forte e o dia prometia. Foi só eu me desapegar daquele resultado esperado que de repente, as coisas estavam acontecendo de forma completamente inesperada e o melhor: eu estava tão feliz quanto. Por isso, as vezes, tudo o que precisamos é parar de olhar pela janela, abrir a porta e ver as coisas de forma mais ampla. Ver o que o mundo tem a nos oferecer. E para agora, o mundo está me chamando para uma voltinha de moto pois o sol continua a brilhar e qualquer coisa a mais será lucro. Até mesmo aquela companhia feminina.