sábado, 21 de agosto de 2010

A essência do "mais vale dar do que receber"

O ditado "mais vale dar do que receber" assim como o "é dando que se recebe" nunca fizeram muito sentido para mim. A idéia de dar e certamente receber não parecia verdadeira. Talvez pelo nosso imediatismo. Talvez por não perceber que o problema do ditado é semântico. Os verbos dar e receber remetem a uma idéia de presente, atualidade. Creio que o correto seria "dê e receberá", o que nos leva a crer que dando agora, receberemos no futuro.

Mas deixando o português de lado, a questão talvez tenha me causado dúvida por tantos anos por focar nos elementos errados. Dar e receber parece muito relacionado ao material, ao palpável. Percebi esses dias que na verdade, dar e receber trata-se de intenções e expectativas e não de bens. Gosto de ser gentil com as pessoas. Ao cruzar com alguém na rua, geralmente olho nos olhos da pessoa e dou um bom dia ou pelo menos balanço a cabeça em forma de cumprimento. Geralmente as pessoas respondem. São raros os casos em que a pessoa não diz nada e até hoje não aconteceu de alguém responder algo do tipo "o que esse dia tem de bom?". Me faz feliz dar bom dia para as pessoas. Eu fico feliz de ter essa atitude que poucos curitibanos tem. Dá satisfação, me traz alegria ser gentil. Eu notei que mesmo quando as pessoas não respondem eu me sinto feliz. Dar passagem a algum carro que precisa cruzar seu caminho ou a um pedestre que parou no meio da rua esperando a outra pista ficar livre para ele atravessar é bom mesmo quando o carro ou pedestre não percebem que você deu passagem. Nesses casos eu vou embora com a mesma sensação boa que sentiria se eles tivessem atravessado.

A minha intenção era dar bom dia ou dar passagem ao pedestre. A minha maior expectativa com isso era...... dar bom dia ou dar passagem ao pedestre. Por isso eu fico satisfeito. Eu consigo o que eu quero. Eu atinjo meu objetivo. Eu não esperava ouvir um bom dia do outro. Eu não esperava que o pedestre atravessasse. Eu queria ser gentil. E eu fui. Da mesma forma que a gentileza tem esse efeito, doar bens materiais também é assim. As vezes um mendigo pede comida e por coincidência você está comendo algo. E você dá alimento à ele. Se você espera um obrigado e que vá receber algo em troca, a frustração é muito mais provável. Mas se apenas dar o sanduíche ao pobre coitado lhe fizer feliz, você deu e recebeu. Deu um sanduíche e recebeu a satisfação de fazer o bem.

Então, se você está pensando em doar algum dinheiro para o Criança Esperança achando que vai receber fortuna e abundância no futuro, esqueça. Dar um bom dia a alguém esperando um bom dia em retribuição é o caminho mais rápido para a frustração. As pessoas são diferentes, instáveis. Colocar a responsabilidade pela nossa felicidade nas costas dos outros é um erro grotesco assim como assumir a responsabilidade pela felicidade dos outros. Doar sem esperar nada em retorno é bom, pois, qualquer coisa que você receber depois será lucro.

domingo, 15 de agosto de 2010

Sempre na hora que deve ser

Insistimos em querer as coisas que queremos na hora em que queremos. Ficar apegados aos resultados. Presos ao que supomos ser o melhor no momento. Queremos ter controle sobre nossa vida. Eu gosto muito de andar de moto e muitos para quem falei sobre isso responderam de imediato: "ai, eu morro de medo de moto". Claro que pelas estatísticas, sabemos que há um risco em andar de moto. Mas mesmo assim, não tenho medo porque a hora que for para ser, será de um jeito ou de outro. Para exemplificar meu ponto de vista, observem a foto a seguir:
Ok, parece um acidente de transito normal. O carro saiu da estrada onde vemos pessoas ao lado do guardrail. Ele deu "piruetas" e parou virado para o lado oposto ao qual vinha. O que podemos dizer é que o máximo que o motorista controlava era seu veículo. Mas porque ele foi se acidentar bem ali. Também não se sabe a razão de ele estar dirigindo à exata velocidade que permitiu ele parar do jeito que parou. Ele podia ser imprudente e estar muito rápido ou estar devagar e distraido. Detalhes que fogem à nossa compreensão. Para ficar mais claro o que aconteceu, vejam a próxima imagem. 
É um esquema grotesco, mas imagino que o carro desceu o barranquinho, bateu a frente no concreto, a traseira foi lançada para cima, dando uma volta no ar e finalmente parou naquele espaço minúsculo onde o vemos. 
Novamente, ele podia controlar a velocidade do carro, mas não as conseqüências do que viria a seguir. Se ele estivesse a uma velocidade diferente, poderia ter acertado de frente com o muro do esgoto que vemos e ter moído a cara na parede. Não, ele estava na exata velocidade que deveria estar para que a física colocasse o carro onde colocou. 

Eu disse tudo isso até agora para finalmente concluir que por mais que tentemos, não podemos controlar quase nada que nos acontece. Temos controle sobre pequenas coisas como a hora de comer e até observar se o prazo de validade do alimento está em dia, mas a maionese que parecia em perfeitas condições acabou dando uma intoxicação. Como saber? Acho que a última imagem diz tudo que eu queria transmitir.
Damos muitos nomes para o que aconteceu. Deus, Alá, milagre, destino, acaso, sorte, Universo, força maior. Não sabemos exatamente o que é, mas uma certeza podemos ter: não foi HUMANO.

sábado, 14 de agosto de 2010

Você é livre?

Se você perguntar a alguém se ela é uma pessoa livre, a resposta pode ser algo assim: "claro que sou. Eu moro sozinho, tenho um bom emprego, tenho meu carro, posso ir aonde eu quiser, não devo satisfação à ninguém. Sim, eu sou livre." Será? Tem certeza? Se considerarmos que a liberdade NECESSARIAMENTE tem que ser interna, a resposta pode não ser tão clara assim.

Conforme crescemos e a vida vai nos levando aos caminhos naturais como o ensino fundamental, o ensino médio, faculdade, o primeiro emprego e assim por diante, cada vez mais temos a impressão de que somos livres. Ao auferir renda, a sensação de liberdade parece plena, afinal, agora o dinheiro é seu e você não tem mais que pedir à ninguém um trocado para comprar o que deseja. Mas ainda assim, alguma coisa sempre acaba nos restringindo. Algo intrínseco, algo interno e profundo, difícil de descobrir e extremamente sutil de se notar. Joãozinho queria muito comprar um jogo de rodas para seu carro, pois ele adorava o carro e queria deixa-lo mais bonito. Ele trabalhava em multinacional e com um salário muito bom, tinha dinheiro para tal aquisição. E sem perguntar a ninguém, comprou as rodas que tanto queria. Mas apesar de te-las, não conseguia se livrar de uma sensação de culpa, uma coisa que não se sabe de onde vinha, mas tinha a ver com a aprovação dos pais. Eles nunca haviam dito que ele não podia comprar as rodas ou que ficariam muito chateados se ele o fizesse, mas mesmo assim aquela sensação estava ali, espreitando a ilusória liberdade de Joãozinho.

A liberdade não consiste em fazer o que queremos, mas sim, fazer aquilo que nos faz bem desde que não prejudique ninguém. As vezes queremos algo que não necessariamente nos fará bem. Por exemplo, ligar para o ex e acabar deprimida, comprar algo supérfluo e ficar com o sentimento de culpa, como no caso de Joãozinho. A liberdade encontra-se em fazer aquilo que temos vontade, sem prejudicar ninguém e sem entrar em conflito com isso. É respeitar a nossa individualidade (não individualismo), exigir que os outros a respeitem e respeitar a individualidade alheia. É saber que temos direito de sermos tratados como indivíduo único com vontades próprias e ter plena consciência que os outros também tem.